quarta-feira, 2 de abril de 2025

Malleus Maleficarum

"O Martelo das Bruxas" é um dos tratados mais infames sobre a caça às bruxas, escrito em 1486 pelos inquisidores dominicanos Heinrich Kramer (Henricus Institoris) e James Sprenger. A obra foi amplamente utilizada pela Inquisição e por tribunais seculares durante os séculos XV a XVII.

Contexto Histórico e Autores

  • Heinrich Kramer era um inquisidor experiente que atuou principalmente na Alemanha, enquanto James Sprenger era um teólogo e prior dominicano.
  • O livro foi publicado em 1487 com o apoio da bula papal Summis desiderantes affectibus (1484), emitida pelo Papa Inocêncio VIII, que legitimava a perseguição às bruxas.

Conteúdo do Malleus Maleficarum

A obra está dividida em três partes:

1.    Fundamentos teológicos da bruxaria – Afirma que a bruxaria é real e que negá-la é heresia.

2.    Métodos das bruxas e como identificá-las – Descreve pactos com o Diabo, voos noturnos, sexo com demônios e malefícios.

3.    Procedimentos judiciais para perseguir bruxas – Inclui interrogatórios, torturas e execuções, com ênfase na culpabilidade de mulheres.

Uso pelos Inquisidores e Autoridades

  • Apesar de não ter sido oficialmente endossado pela Igreja, o Malleus tornou-se um manual popular para inquisidores e juízes seculares.
  • Inquisidores notórios que usaram o livro:
    • Bernardo Rategno (séc. XVI) – Atuou na Lombardia, citando o Malleus em seus julgamentos.
    • Nicholas Rémy (1530–1612) – Perseguiu bruxas na Lorena, executando centenas com base nos métodos do livro.
    • Peter Binsfeld (1540–1603) – Bispo e teólogo que usou o Malleus para justificar a caça às bruxas na Alemanha.

Impacto e Legado

  • O livro contribuiu para a "Era das Caças às Bruxas" (séc. XVI–XVII), resultando em milhares de execuções, especialmente na Alemanha, França e Suíça.
  • Foi reimpresso 29 vezes entre 1487 e 1669, mostrando sua influência duradoura.
  • Apesar de sua popularidade, alguns clérigos, como o jesuíta Friedrich Spee (autor de Cautio Criminalis, 1631), criticaram seus métodos brutais.

Declínio

No século XVII, o Malleus perdeu força com o avanço do racionalismo e o fim dos grandes processos por bruxaria, mas permanece como um símbolo sombrio da perseguição religiosa e misoginia na Europa medieval.

A caça às bruxas na Europa (séculos XV–XVII) envolveu vários inquisidores, juízes e autoridades seculares que perseguiram supostas bruxas com base em tratados como o Malleus Maleficarum.

1. Heinrich Kramer (Henricus Institoris) e James Sprenger

  • Período: Final do século XV (década de 1480).
  • Papel: Autores do Malleus Maleficarum (1486), o manual mais infame sobre bruxaria.
  • Atuação: Kramer liderou julgamentos na Alemanha (especialmente em Ravensburg e Innsbruck), mas foi expulso por autoridades locais por seus métodos brutais. Sprenger atuou na Renânia.

2. Bernardo Rategno da Como († c. 1510–1516)

  • Período: Ativo entre 1505–1510 (décadas após o Malleus Maleficarum).
  • Cargo: Inquisidor dominicano na Lombardia (região de Como, norte da Itália).
  • Base Legal: Usou explicitamente o Malleus Maleficarum em seus julgamentos, um dos primeiros inquisidores a citá-lo como autoridade.

 3. Bernardino de Siena (1380–1444)

  • Período: Início do século XV (antes do Malleus).
  • Papel: Pregador franciscano que difundiu o pânico sobre bruxaria na Itália, associando-a a heresias.

4. Nicholas Rémy (1530–1612)

  • Período: Décadas de 1580–1590.
  • Papel: Juiz e procurador real na Lorena (França).
  • Legado: Escreveu "Daemonolatreiae" (1595), um tratado que justificava a caça às bruxas. Executou cerca de 900 pessoas em 15 anos.

5. Peter Binsfeld (1540–1603)

  • Período: Fim do século XVI.
  • Papel: Bispo e teólogo em Trier (Alemanha).
  • Legado: Autor de "Tractatus de Confessionibus Maleficorum" (1589), defendendo tortura e execuções. Sob seu comando, Trier tornou-se um epicentro de caça às bruxas, com ~300 execuções.

6. Martín Delrio (1551–1608)

  • Período: Final do século XVI/início do XVII.
  • Papel: Jesuíta e teólogo espanhol.
  • Legado: Escreveu "Disquisitionum Magicarum" (1599–1600), um manual usado em julgamentos na Espanha, Países Baixos e Alemanha.

7. Jean Bodin (1530–1596)

  • Período: Década de 1580.
  • Papel: Jurista francês (não era inquisidor, mas influenciou tribunais).
  • Legado: Autor de "Da Demonomania dos Bruxos" (1580), defendendo execuções mesmo sem provas.

8. Alonso de Salazar Frías (1564–1636)

  • Período: Início do século XVII.
  • Papel: Inquisidor espanhol no caso das Bruxas de Zugarramurdi (1610).
  • Contraste: Ao contrário dos outros, ele criticou a caça às bruxas, exigindo provas concretas e reduzindo as execuções na Espanha.

9. Matthew Hopkins (c. 1620–1647)

  • Período: Década de 1640.
  • Papel: "Caçador de Bruxas" autoproclamado na Inglaterra.
  • Legado: Responsável por ~300 execuções durante a Guerra Civil Inglesa, usando métodos como privação de sono e "provas" absurdas.

Diferenças Regionais

  • Espanha/Itália: Inquisição era mais cética em relação à bruxaria (focava em heresia).
  • Alemanha/França/Suíça: Caça às bruxas foi mais violenta, com tribunais seculares usando o Malleus.
  • Inglaterra/Escócia: Juízes seculares (como Hopkins) lideravam as perseguições.

Conclusão

Enquanto o super conhecido Torquemada focou em judeus e hereges, os grandes "caçadores de bruxas" foram Kramer, Rémy, Binsfeld e Hopkins, que agiram em regiões onde a bruxaria era vista como uma ameaça demoníaca. A Inquisição Espanhola, curiosamente, foi uma das mais céticas em relação ao tema.

 

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