"O Martelo das Bruxas" é um dos tratados mais infames sobre a caça às bruxas, escrito em 1486 pelos inquisidores dominicanos Heinrich Kramer (Henricus Institoris) e James Sprenger. A obra foi amplamente utilizada pela Inquisição e por tribunais seculares durante os séculos XV a XVII.
Contexto Histórico e Autores
- Heinrich
Kramer era um inquisidor experiente que
atuou principalmente na Alemanha, enquanto James Sprenger era
um teólogo e prior dominicano.
- O
livro foi publicado em 1487 com o apoio da bula
papal Summis desiderantes affectibus (1484), emitida
pelo Papa Inocêncio VIII, que legitimava a perseguição às
bruxas.
Conteúdo do Malleus Maleficarum
A obra está dividida em três partes:
1.
Fundamentos teológicos da bruxaria –
Afirma que a bruxaria é real e que negá-la é heresia.
2.
Métodos das bruxas e como
identificá-las – Descreve pactos com o Diabo, voos
noturnos, sexo com demônios e malefícios.
3.
Procedimentos judiciais para perseguir
bruxas – Inclui interrogatórios, torturas e execuções,
com ênfase na culpabilidade de mulheres.
Uso pelos Inquisidores e Autoridades
- Apesar
de não ter sido oficialmente endossado pela Igreja, o Malleus tornou-se
um manual popular para inquisidores e juízes seculares.
- Inquisidores
notórios que usaram o livro:
- Bernardo
Rategno (séc. XVI) – Atuou na Lombardia,
citando o Malleus em seus julgamentos.
- Nicholas
Rémy (1530–1612) – Perseguiu bruxas na Lorena,
executando centenas com base nos métodos do livro.
- Peter
Binsfeld (1540–1603) – Bispo e teólogo
que usou o Malleus para justificar a caça às bruxas na
Alemanha.
Impacto e Legado
- O
livro contribuiu para a "Era das Caças às Bruxas" (séc.
XVI–XVII), resultando em milhares de execuções, especialmente na Alemanha,
França e Suíça.
- Foi
reimpresso 29 vezes entre 1487 e 1669, mostrando sua
influência duradoura.
- Apesar
de sua popularidade, alguns clérigos, como o jesuíta Friedrich
Spee (autor de Cautio Criminalis, 1631), criticaram
seus métodos brutais.
Declínio
No século XVII, o Malleus perdeu força
com o avanço do racionalismo e o fim dos grandes processos por bruxaria, mas
permanece como um símbolo sombrio da perseguição religiosa e misoginia na
Europa medieval.
A caça às bruxas na Europa (séculos XV–XVII) envolveu
vários inquisidores, juízes e autoridades seculares que perseguiram supostas
bruxas com base em tratados como o Malleus Maleficarum.
1. Heinrich Kramer (Henricus Institoris) e
James Sprenger
- Período:
Final do século XV (década de 1480).
- Papel:
Autores do Malleus Maleficarum (1486), o manual mais
infame sobre bruxaria.
- Atuação:
Kramer liderou julgamentos na Alemanha (especialmente em
Ravensburg e Innsbruck), mas foi expulso por autoridades locais por seus
métodos brutais. Sprenger atuou na Renânia.
2. Bernardo Rategno da Como († c. 1510–1516)
- Período:
Ativo entre 1505–1510 (décadas após
o Malleus Maleficarum).
- Cargo:
Inquisidor dominicano na Lombardia (região
de Como, norte da Itália).
- Base
Legal: Usou explicitamente o Malleus
Maleficarum em seus julgamentos, um dos primeiros inquisidores a
citá-lo como autoridade.
3. Bernardino
de Siena (1380–1444)
- Período:
Início do século XV (antes do Malleus).
- Papel:
Pregador franciscano que difundiu o pânico sobre bruxaria na Itália,
associando-a a heresias.
4. Nicholas Rémy (1530–1612)
- Período:
Décadas de 1580–1590.
- Papel:
Juiz e procurador real na Lorena (França).
- Legado:
Escreveu "Daemonolatreiae" (1595), um tratado
que justificava a caça às bruxas. Executou cerca de 900 pessoas em
15 anos.
5. Peter Binsfeld (1540–1603)
- Período:
Fim do século XVI.
- Papel:
Bispo e teólogo em Trier (Alemanha).
- Legado:
Autor de "Tractatus de Confessionibus Maleficorum" (1589),
defendendo tortura e execuções. Sob seu comando, Trier tornou-se
um epicentro de caça às bruxas, com ~300 execuções.
6. Martín Delrio (1551–1608)
- Período:
Final do século XVI/início do XVII.
- Papel:
Jesuíta e teólogo espanhol.
- Legado:
Escreveu "Disquisitionum Magicarum" (1599–1600),
um manual usado em julgamentos na Espanha, Países Baixos e
Alemanha.
7. Jean Bodin (1530–1596)
- Período:
Década de 1580.
- Papel:
Jurista francês (não era inquisidor, mas influenciou tribunais).
- Legado:
Autor de "Da Demonomania dos Bruxos" (1580),
defendendo execuções mesmo sem provas.
8. Alonso de Salazar Frías (1564–1636)
- Período:
Início do século XVII.
- Papel:
Inquisidor espanhol no caso das Bruxas de Zugarramurdi (1610).
- Contraste:
Ao contrário dos outros, ele criticou a caça às bruxas,
exigindo provas concretas e reduzindo as execuções na Espanha.
9. Matthew Hopkins (c. 1620–1647)
- Período:
Década de 1640.
- Papel:
"Caçador de Bruxas" autoproclamado na Inglaterra.
- Legado:
Responsável por ~300 execuções durante a Guerra Civil
Inglesa, usando métodos como privação de sono e "provas"
absurdas.
Diferenças Regionais
- Espanha/Itália:
Inquisição era mais cética em relação à bruxaria (focava em heresia).
- Alemanha/França/Suíça:
Caça às bruxas foi mais violenta, com tribunais seculares usando o Malleus.
- Inglaterra/Escócia:
Juízes seculares (como Hopkins) lideravam as perseguições.
Conclusão
Enquanto o super conhecido Torquemada focou em judeus e hereges, os
grandes "caçadores de bruxas" foram Kramer, Rémy,
Binsfeld e Hopkins, que agiram em regiões onde a bruxaria era vista como uma
ameaça demoníaca. A Inquisição Espanhola, curiosamente, foi uma das mais
céticas em relação ao tema.
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