Nos Séculos XVIII e XIX, a Lua Deixou os Cálculos de Lado – e Virou Alma dos Sonhos
Entre salões literários e casas assombradas, entre telas
de pintores e sessões espíritas, a Lua do Romantismo tornou-se um espelho da
melancolia, onde poetas viam seus próprios desesperos, um palco para
monstros, onde lobisomens uivavam em tormento e finalmente uma ponte
para o invisível, onde médiuns buscavam vozes do além
A Lua dos Poetas:
William Blake e o Luar que Ardía
Em "To the Moon", Blake chamava a
Lua de:
"Ó pálida órfã da noite, enferma de solidão!" A lua deixa de ser
um um astro – agora ela era uma
companheira das almas perdidas
Caspar David Friedrich e a Solidão Pintada
Em "Dois
Homens Contemplando a Lua" (1819), sua luz fria incidia sobre
figuras pequenas e perdidas. Dois homens diante da vastidão noturna – um ensina
ao outro que a luz da Lua é a única pátria que nunca se perde.
A Lua do Povo: Lobisomens, Fadas e
Presságios
Os Malditos
- Na
Europa rural, acreditava-se que: Lobisomens se transformavam
sob a Lua Cheia e Fadas dançavam em círculos (os "anéis
de fada") até o amanhecer
- Na
Lua Minguante Velhas profetizavam mortes e Colheres de prata viradas no
escuro afastavam mau-olhado
Superstições: "Se
uma mulher grávida olhar demais para a Lua, o bebê nascerá lunático" (Ditado
comum na Alemanha do séc. XIX)
O Magnetismo Invisível
Allan Kardec e a Lua Mediúnica
- No "Livro
dos Médiuns" (1861), a Lua era um "ímã astral" que
amplificava comunicações e poderia ser perigosa em sessões na Lua
Cheia pois atraia "espíritos enganadores"
- Em
Paris, nobres faziam sessões à luz de velas sincronizadas com as
fases lunares
"O ectoplasma flui melhor na Lua
Crescente"
(Relato de um médium em 1870)
No Romantismo, a Lua se tornou tinta para melancólicos, sangue
para lobisomens e Luz para espíritos.
Creio que este poema seja um bom exemplo do momento:
Quando
Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Alphonsus
de Guimaraens
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