sexta-feira, 25 de abril de 2025

A Lua como Espelho da Humanidade – Mística

Nos Séculos XVIII e XIX, a Lua Deixou os Cálculos de Lado – e Virou Alma dos Sonhos

Entre salões literários e casas assombradas, entre telas de pintores e sessões espíritas, a Lua do Romantismo tornou-se um espelho da melancolia, onde poetas viam seus próprios desesperos, um palco para monstros, onde lobisomens uivavam em tormento e finalmente uma ponte para o invisível, onde médiuns buscavam vozes do além

A Lua dos Poetas:

William Blake e o Luar que Ardía

Em "To the Moon", Blake chamava a Lua de:
"Ó pálida órfã da noite, enferma de solidão!" A lua deixa de ser um  um astro – agora ela era uma companheira das almas perdidas

Caspar David Friedrich e a Solidão Pintada

Em "Dois Homens Contemplando a Lua" (1819), sua luz fria incidia sobre figuras pequenas e perdidas. Dois homens diante da vastidão noturna – um ensina ao outro que a luz da Lua é a única pátria que nunca se perde.

A Lua do Povo: Lobisomens, Fadas e Presságios

Os Malditos

  • Na Europa rural, acreditava-se que: Lobisomens se transformavam sob a Lua Cheia e Fadas dançavam em círculos (os "anéis de fada") até o amanhecer
  • Na Lua Minguante Velhas profetizavam mortes e Colheres de prata viradas no escuro afastavam mau-olhado

Superstições: "Se uma mulher grávida olhar demais para a Lua, o bebê nascerá lunático" (Ditado comum na Alemanha do séc. XIX)


O Magnetismo Invisível

Allan Kardec e a Lua Mediúnica

  • No "Livro dos Médiuns" (1861), a Lua era um "ímã astral" que amplificava comunicações e poderia ser perigosa em sessões na Lua Cheia pois atraia "espíritos enganadores"
  • Em Paris, nobres faziam sessões à luz de velas sincronizadas com as fases lunares

"O ectoplasma flui melhor na Lua Crescente"
(Relato de um médium em 1870)

No Romantismo, a Lua se tornou tinta para melancólicos, sangue para lobisomens e Luz para espíritos.

Creio que este poema seja um bom exemplo do momento:

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

Alphonsus de Guimaraens

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