A frase reflete um princípio ancestral: em muitas sociedades antigas, a maternidade era óbvia (a mulher gesta e pare), enquanto a paternidade era fluida ou irrelevante no contexto comunitário. Isso mudou radicalmente com o surgimento da propriedade privada, guerras e hierarquias de poder.
Sociedades Matricêntricas e Parentesco
Coletivo
Em grupos pré-agrícolas e horticultores, a
estrutura social frequentemente girava em torno:
- Maternidade
como base: A descendência era matrilinear (o
clã vinha da mãe).
- Paternidade
difusa: Homens contribuíam para a comunidade,
mas não "possuíam" filhos.
- Bens
coletivos: Terra e recursos eram compartilhados.
Exemplos históricos:
- Minangkabau
(Indonésia atual): Uma das maiores sociedades
matrilineares do mundo, onde herança e nomes vêm da linhagem
materna.
- Iroqueses
(América pré-colonial): Mulheres controlavam terras e
decisões tribais.
- Çatalhüyük
(Turquia, 7000 AEC): Arqueologia mostra casas
sem hierarquia de gênero e culto à Deusa-Mãe.
"Nessas sociedades, 'pai' era um
conceito social, não biológico."
A Grande Virada: Quando o Pai (e a
Propriedade) Tornaram-se Importantes
Com a Revolução Agrícola (a partir de
10.000 AEC), vieram:
- Acúmulo
de recursos: Terra e gado viraram bens
herdáveis.
- Necessidade
de 'herdeiros legítimos': Homens queriam certeza
da paternidade para passar riquezas adiante.
- Guerras
e Estados: Hierarquias masculinas se
fortaleceram com exércitos.
Resultado:
- Casamento
monogâmico (para controlar a sexualidade
feminina).
- Deusas
foram substituídas por deuses-patriarcas (ex.:
Yahweh, Zeus).
- Surgimento
do "pai proprietário": Filhos agora
"pertenciam" ao homem.
Exemplos da mudança:
- Código
de Hamurábi (Babilônia, 1750 AEC): Leis puniam
adultério feminino, não masculino.
- Grécia
Homérica: Mulheres viraram
"recipientes" de linhagem (ex.: Odisseia e a
obsessão de Penélope com a fidelidade).
"A frase 'pater semper incertus est'
('o pai é sempre incerto') revela a neurose patriarcal com a
legitimidade."
Foi Sobre Ganância?
A transição para o patriarcado foi, em grande parte, um projeto
de poder econômico e político disfarçado de "ordem natural". A
ganância pela propriedade e controle foi o motor, mas usou outros sistemas como
alavancas.
A Ganância Como Raiz (Mas Não Apenas
Individual)
Não se trata só de "homens maus" tomando
poder, mas de sistemas complexos que recompensaram a acumulação:
- Agricultura
= Nasce a Propriedade: Quando humanos domesticaram
plantas e animais, a terra virou capital. Quem controlava a
colheita, controlava o poder.
- Herança
= Filhos Como Bens: Se cavalos e trigo são
valiosos, quem herda? A certeza da paternidade virou
obsessão.
- Excedente
= Guerras por Mais: Comunidades com estoques viraram
alvos. Quem guerreava? Homens (em maioria), que depois exigiam domínio
sobre mulheres e filhos como "espólio".
"O primeiro escravo foi uma
mulher." – Gerda Lerner (historiadora
feminista).
Como a Religião e Mitos Justificaram a
Ganância
A dominação precisava de narrativas sagradas para
parecer inevitável:
- Marduk
vs. Tiamat (Babilônia): O deus jovem esmaga
a deusa do caos e a divide para criar o mundo. Metáfora da
conquista masculina.
- Zeus
engolindo Métis (Grécia): A deusa da sabedoria é
devorada para que só homens governem.
- Yahweh
e Asherah (Hebreus): O culto à grande mãe é
apagado e substituído por um deus único e masculino.
"Os vencedores reescrevem os
mitos."
Mas Por Que as Mulheres Não Impediram Isso?
Elas resistiram, mas ferramentas de opressão se
sofisticaram:
- Violência
Sistêmica: Estupro como arma de guerra (ex.:
Bíblia, Juízes 21).
- Religião
Domesticando Corpos: Virgindade e monogamia feminina
como "valores divinos".
- Apagamento
Histórico: Sociedades matrifocais foram apagadas
ou chamadas de "primitivas".
Exceções:
- Em Esparta,
mulheres tinham direitos (porque homens estavam sempre guerreando).
- Cleópatra governou
o Egito, mas Roma a pintou como uma devassa.
A Ganância Continua Hoje?
Sim, mas de formas novas:
- Capitalismo
= Patriarcado 2.0: Mulheres ganham menos, mas são
as maiores cuidadoras.
- Religiões
ainda controlam corpos: Aborto criminalizado em nome de
"valores".
- Mitos
modernos: A ideia de que "homens são
naturalmente provedores" justifica desigualdades.
O Que Perdemos?
A transição de sociedades sociocráticas/matricêntricas para patriarcais não
foi "natural" – foi política. Perdemos:
- Autonomia
feminina sobre corpos e descendência.
- Compartilhamento
comunitário em favor da propriedade privada.
- O direito de à Vida sem discriminação. A Igualdade.
- A Liberdade de cada um ser quem realmente É.
- A Paz entre os Povos
E se tivéssemos evoluído sem patriarcado?
A boa notícia? Se foi construído, pode ser desconstruído!
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