sábado, 14 de fevereiro de 2009

Descobertas!


Inadvertidamente olhei em teus olhos e vi tua alma. Descuido teu, infelicidade minha, pois este vazio exaure também a mim.

Descobri-me manipulada, uma cúmplice temida, com a consciência aplacada pela ilusão do teu amor. Sem saber, era a inimiga atraída pelo fel.

O sabor amargo da paixão não desejada distorce nosso ser, invade a mente, preenche lacunas e causa desordem. Desta vez, sem medo, me deixo levar pela mão de meu carrasco, até o ponto onde não mais existe retorno.

Algoz ou Vítima? Qual a diferença se dominar é o único objetivo? Se o cruel do teu sorriso contrasta com a dor que trás nos olhos e o odor do teu poder é a fragilidade de tua alma. Meu sangue sempre terá o cheiro acre do teu medo.

Tua covardia e meu orgulho nos conduzem ao fim. Inevitável! Ah Beau, a quem poupa realmente? Deverá então este sofisma afastar nossos caminhos? Ou será esta a única maneira de nos reconhecermos?

Memórias de Todas as Vidas
(Dez/12’2004)
............................................................... Livia Ulian

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

13º Paradoxo!

...A certeza de ser a última, de que todos iriam antes de mim, era a única que restava, e por mais que me esforçasse em me livrar deste pensamento não conseguia. Era claro, era a verdade. O inesperado de tudo foi o desenlace, se é que posso dizer que terminou.

As nossas defesas por fim caíram. Não bastava somente vencer ou dominar, submeter era o conceito de vitória. Assim meu martírio teve um novo início, a submissão e a negação passaram a fazer parte daquilo a que chamava de sobreviver. Acreditando que minha força pudesse dobrar meu algoz, isso se tornou nosso eterno duelo.

Não sei em que momento teve início, na minha mente ou na dele, mas era vital ver o outro sobrepujado e ambos usamos todos os meios para alcançar este fim. Meus amigos caíram um a um diante de meus olhos, como punição por meu orgulho, ou talvez em nossa doença, isso pudesse ser considerado uma recompensa.

Minha certeza se fez realidade e quando percebi, éramos semelhantes, tão parecidos em essência que a sensação era de estar diante de um espelho. Enxerguei minhas qualidades e defeitos, refletidas no homem a minha frente. Sim, agora ele não era mais somente meu carrasco, frio e distante, era a única ligação com a realidade que eu possuía e através dele me mantinha viva.

O duelo prosseguia sem existir um patente vencedor, ou pior, nos dois vencemos, sem nunca termos tomado consciência disto.

Do tempo não fazia mais conta, somente esperava o momento de sua chegada, ou que um destino mais cruel me levasse dali. Na 13º Lua, por descuido, me vi livre. Fugi levando comigo cicatrizes que nunca desaparecerão por completo.
Nas noites negras, as luzes da cidade me fazem lembrar e tentar esquecer...

Memórias de Todas as Vidas
Dez/07’ 2004
...............................................................Livia Ulian

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Essência!


...Éramos nós os últimos sobreviventes, com a missão de defender os ideais, os ritos, daquele mundo no qual acreditávamos. Poucos, fiéis e obstinados, fortes e frágeis pela lealdade que nos acorrentava aos antigos laços de amizade.
Após tanto tempo, não sabíamos mais o que proteger, se nossos ideais ou uns aos outros. Os questionamentos surgiam nos olhos de todos e cada um. Improferíveis! Eu mesma nunca teria coragem de perguntar, em voz alta, o porquê de estarmos ali. O motivo havia sido perdido há muito, talvez no momento em que não mais conseguimos limpar as mãos do sangue de outrem. Foi a primeira vez que me perguntei silenciosamente, mas minha cabeça não conseguia achar uma resposta e o corpo continuou agindo.
Essa pergunta surge de tempos em tempos e continua sem resposta e na verdade não sei se quero encontrá-la.
Tudo está perdido e a maioria se foi, de uma maneira ou de outra. Aqueles que restam não são mais os mesmos e por vezes tenho a certeza que o sangue das mãos se misturou a alma perdida. A piedade nos abandonou assim como assim como o mundo nos esqueceu!
Não quero morrer aqui, quero voltar pra casa. Faz tanto tempo! Como?Alguns tentaram e seus corpos poluíram a água do rio. Hoje a morte não parece tão ruim, talvez seja a única saída dessa prisão sem muros.
Perdemos a inocência e a essência do que é ser humano. Não rezo mais para o meu deus e nem tenho esperança. A mim só resta ir até o fim e ver cada um daqueles que um dia chamei de amigos perder a vida, porque a alma há muito se foi...

Memórias de Todas as Vidas
Out/24’ 2004
...........................................................Livia Ulian