segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O Louco!


Primeiro aprenda a tocar flauta! Fácil? Difícil? Então tente qualquer outro instrumento, pois Guildenstern não sabia e creio que Rosencrantz também não.

Posto isso, conversemos sobre as coisas inúteis, e claro que tudo é útil para alguém, porém nem sempre são as pessoas no “interlóquio”.

Lord Henry Wotton era um bom interlocutor, por vezes monologava, ouvido por uns e escutado por outros. Nada tão desgovernado quanto o reino da Dinamarca, nem definitivo como as covardes reflexões que nos ascendem a Dorian ou realistas a ponto de superar Alice Ozy, somente as mesmas nulidades que nos acompanham até e desde o Iluminismo.

Uma questão me persegue, seria Voltaire um zoroastriano de Bactras? Zadig ou Cândido, ainda não sei! Pode ser que Sinuhe já o soubesse tempos antes ou mesmo o sorumbático Lestat. O mal é que a arte é longa e a vida é breve!

Será que já chegamos ao meio dia? Ou já somos a dolorosa vergonha para o super-homem? Diga-me: Em qual carta do Tarot?

O assunto então:
_ Que tal lhe parece aquilo que é a única coisa que não faz parte do ciclo do carbono?

................................................................Livia Ulian

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Momentum Linear


Dizem que é uma grandeza física que relaciona massa e velocidade, isto é, a quantidade de matéria de um corpo e sua velocidade. É também uma grandeza vetorial com direção e sentido. Já que a velocidade dos corpos tem a ver com a razão entre espaço e tempo, então temos a quantidade de movimento linear envolvida com massa, espaço e tempo.

Muitas pessoas vão em sentidos opostos tentando dar direção a suas vidas e tantas outras convergem em sentido e nem por isso tem direção. E quanto tempo perdem com isso? O Isaac tá certo, você precisa cada vez mais de força para mudar o vetor do seu movimento e talvez chegue o dia em que não possua a força necessária!

Zeus me salve disso! Perder o controle da carruagem, não lançar mais os dados, ficar a mercê de mãos ineptas, que desconhecem totalmente meu espaço, meu tempo! Decididamente não!

Mude agora, se precisar de ajuda para isso, então vá atrás. Somos únicos, completamente originais, mas nunca estaremos sozinhos!

...........................................................Livia Ulian

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O Renascimento da Luz!


Yule é tempo de despertar, assinalar novas metas e descartar velhos pesares. A escolha de celebrar o Natal em 25 de dezembro, foi feita pelo Papa Julius I no quarto século DC, para que coincidisse com os rituais pagãos de Solstício de Inverno. A intenção era substituir a celebração pagã pela cristã.

Nossa árvore de Natal tem suas origens na celebração pagã de Yule. Nunca havia conseguido entender o que fazia uma árvore dentro da gruta onde nasceu Jesus. Simples, a árvore vem de outra cultura - as famílias pagãs traziam uma árvore viva para o interior de suas casas, para que os espíritos da madeira tivessem um lugar aconchegante durante os meses frios de inverno. Nela penduravam sinos, para que ouvissem quando estes mesmos espíritos estivessem presentes; comida para que eles tivessem o que comer e enfeites. A estrela de cinco pontas ou pentagrama, no topo, representava os elementos.

Yule é um festival Solar e a rena é uma alusão ao Deus Cornudo.

Em casa, nós costumávamos fazer um rocambole de chocolate em forma de tronco, todo enfeitado com glacê, cerejas, folhinhas de hortelã, nozes moídas que serviam de terra - todos os anos esperávamos o dia de fazer o rocambole, com grandes novas idéias para a decoração... Não sei se minha mãe sabia exatamente a origem disso, mas hoje eu entendo o porque. Era nosso Yule Log!

Em Yule é célebre atear fogo em um tronco que deve ser enfeitado e recheado de pedidos e desejos para o ano que se inicia. O tronco deve começar a queimar no inicio das festividades e durar até o final, suas cinzas devem ser guardadas, pois contém propriedades mágicas. Acredita-se que essa prática tenha origem nas comemorações e pedidos ao deus Thor e que a tora utilizada fosse um carvalho, que é dedicado a ele.

Então A TODOS vocês meus amigos, Pagãos, Cristãos e Judeus... Façam um Rocambole de Chocolate e a cada mordida Desejem Firme, Desejem Forte, Desejem Tudo....

FELIZ YULE... que a Luz Tome conta de suas Vidas!

Que Assim Seja!!! Blessed Be



..............................................................Livia Ulian

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Mi Sustenido!


O ontem é hoje, e pode ser amanhã! Mas também, o que importa?

O tempo não me pertence, não tenho dias ou noites.

Sou hoje a mesma que fui amanhã e completamente diferente daquela que serei ontem.

Mudar é pouco, mudar é continuo, mudar é a razão.

Sempre vou existir no tempo, e neste momento, só neste momento preciso de espaço.

Não vou acumular espaço, pois é perda de tempo.

Eu posso perder o chão, perder a paciência, mas não me faça perder tempo.

Meu tempo é para ganhar asas, voar com Maat. Esquecer a razão e viver por ela.

Não conheço a razão, sou puro sentimento. Eu posso!

O poder está em não conhecer o fim e procurar por ele,
Saber que posso alcançar o tempo e mesmo assim, deixar que ele venha atrás de mim...

Estive aqui, bem ali... Agora... Fui!

.........................................................Livia Ulian

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A Tropa de Quíron!


A época do ano mais esperada chegou! A maioria cristã adora o Natal, eu por minha vez amo a Zeus.

Todo ano espero a nossa estrela amarela entrar em Sagitário, tudo fica mais brilhante, mais grandioso! Muitos ficam preocupados com seu "inferno astral", eu tenho Zeus Astral e nada pode ser mais feliz.

Dizem por aí, e eu acredito até onde me interessa, que somos Livres Pensadores ou Pensadores Livres!
Sou de natureza filosófica, gosto de pensar no todo e nas partes. Se não sei algo, procuro aprender, ouço quem sabe e entendo o suficiente para me colocar... a ignorância me incomoda. Sei ouvir, se não for besteira! Se resolvo ser especialista, aí a coisa muda de figura, sou imbatível. Deve ser daí que vem nossa fama de saber tudo.
A parte de ser livre já é um pouco mais difícil de explicar. Depois de pensar por algum tempo, posso dizer que: o grande problema é a dependência. Tenho uma dificuldade incomensurável em ter pessoas dependendo de mim. Se na hora de sair correndo com a crina ao vento, a pessoa se tornar uma âncora, ela fica. Este é o ponto da complexa personalidade, ser livre exige coragem, a mesma coragem que impede que deixemos amigos pra trás. Então que venha junto, mas não tente me prender. Assim tudo fica perfeito!

Tem também o excesso de sinceridade! Entre o "Eu te amo" e o "Nem sei quem você é", tudo fica bem! Não que sejamos completamente sinceros o tempo todo, porque ninguém o é, mas ajo sempre com a verdade, e gosto de sentir a retribuição. Então se ao final da história eu perceber que fui enrolada vai sentir toda minha franqueza na pele. Eu não odeio, mas só esqueço após um verdadeiro pedido de desculpas! Não quero e nem gosto de ver ninguém implorando perdão, isso só causa ojeriza. Pedir desculpas significa reconhecer o erro e não virar pano de chão!

E no fim de tudo, cavalos andam em tropa, porque não gostam de andar sozinhos e para que nenhum fique pra trás!

.........................................................Livia Ulian

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Samhain


"Houve um tempo em que um viajante, se tivesse disposição e conhecesse apenas uns poucos segredos, poderia levar sua barca para fora, penetrar o mar do verão e chegar, não ao Glastonbury dos monges, mas a ilha sagrada de Avalon; isso porque em tal época, os portões entre os mundos vagavam com as brumas e estavam abertos, um após o outro, ao capricho e ao desejo do viajante. Esse é o grande segredo conhecido de todos os homens cultos de nossa época: pelo pensamento criamos o mundo que nos cerca, novo a cada dia.
A verdade tem muitas faces e assemelha-se a velha estrada que conduz a Avalon; o lugar para onde o caminho nos levará depende da nossa própria vontade e de nossos pensamentos, e talvez, cheguemos ou à sagrada ilha da eternidade, ou................."

As Brumas de Avalon, Vol.1 – sobre a verdade de Morgana

Quando o véu abrir, encontrará em meio a bruma, o caminho que o levará direto a Avalon para festejar com seus ancestrais!

.............................................................Livia Ulian

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Desagravo!


Venho por meio desta reparar a Injúria cometida!

Mas de qual das muitas injurias deveria eu me desculpar? Simples, a pior delas: Ser Eu Mesma!...

No jantar de aniversário oferecido por uma Amiga Querida, em um restaurante francês da grande metrópole, as Lulus se encontraram! Como toda mulher sabe e só nós conseguimos, travávamos conversa com nossas novas amigas da frente, da direita, da esquerda e do outro lado da mesa e claro que tudo ao mesmo tempo. Em um ponta da mesa estávamos falando sobre a Austrália e o bebê vindouro de uma das meninas, na outra ponta a conversa girava em torno do tempo que nos conhecíamos, enquanto que com a aniversariante o papo era bruxaria. Com as meninas a minha frente falava sobre viagens e por alguns momentos TODAS falamos deste assunto. Claro que isso durou pouco e nos reorganizamos por interesse geográfico!

Foi aí que a Injúria foi cometida! Em um arroubo infeliz, minha nova amiga quis me explicar o grau de intensidade que a Europa Odeia Italianos, e sua análise comparativa foi: Os Italianos são odiados por todos europeus exatamente como os Mackenzistas são odiados pelos outros universitários e os Corinthianos pelos outros times....

Sou Bruxa, Maga, Feiticeira, enfim Magista e nesse momento a taça de vinho tinto, que ela segurava com suas mãozinhas, virou em sua blusa branca! Não senti raiva, nem lembro o nome da donzela, só achei que a colocação foi completamente infeliz e despreparada! Ela estava sentada a frente de uma pessoa que nunca havia visto antes e a boa educação pede que sejamos, no mínimo corteses. Sou neta de Italianos, Mackenzista e Corinthiana, não sei o que vem primeiro! A taça tinha que virar! Rsrsrsrs

Todo europeu odeia Italianos? Talvez, afinal Roma invadiu todas as nações Européias. O Império Romano foi o berço da civilização ocidental! O Mackenzie é odiado por outras universidades? Juro, é só por aquelas universidades de fundo de quintal! E o Corinthians? Bem, praqueles que acham que é pouco, EU VIVO POR TI CORINTHIANS!

...................................................................Livia Ulian

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Lugh filho de Kian e Ethnea!


Os deuses sempre foram o meu fraco ou forte, não sei bem! Confesso que sou apaixonada por alguns e não somente um – um único deus é muito pobre. Também não gosto de ficar na mesmice! Não tenho nada contra Apolo, mas prefiro Ares.
Dia 1º de Agosto comemoramos Lughnasadh, ou Lamas como veio a ser chamado depois que o Deus do Cristianismo saiu do deserto. Lamas é a festa da colheita cristã (Loaf Mass), onde se fazem pães com os primeiros grãos colhidos.
Mas falemos de Lugh. Ele é uma mistura de duas linhagens muito distintas, seu pai Kian era um Tuatha Dé Danaan e sua mãe, Ethnea era filha do Fomorian Balor, portanto, Ele descendia de deuses e demônios.
Os povos antigos amavam profecias e um deus que se prezasse teria que ter a sua para engrandecê-lo – Zeus teve a sua, Cassandra gastou uma profecia com Páris (que nem chegou ao sopé do Olimpo), porque não Lugh?
Tanto uma maldição quanto uma profecia (que muitas vezes são a mesma coisa), tem que ter o momento certo para ser lançada a público.
No caso de Lugh, o corajoso druida Fomorian tem a revelação e diz na frente de várias testemunhas: “Rei Balor dos Fomorian, tu cairás em batalhas diante da lança do filho de seu filho”. Para impressionar ainda mais, imaginem que ele possa ter feito isto após estripar um animal para ler em suas entranhas. Visualizem o sábio coberto de sangue até as barbas. Eu acreditaria e ninguém com a menor possibilidade de ser meu neto sobreviveria a este dia.
Mas o rei era bonzinho e Lugh foi dado em adoção a Tailtiu, a esposa escravizada do Rei Bolgs.
Tailtiu deve ter sido uma excelente mãe, mas não deixava de ser uma escrava conquistada. Um dia, os Tuatha Dé Danaan, ordenaram que ela limpasse uma grande área para o plantio. Ela não foi capaz de tamanho esforço físico e morreu durante a tarefa.
Quando Lugh foi aceito como deus, em homenagem a sua mãe adotiva, ordenou que todo ano, naquela data, fosse feito um festival para Tailtiu – Lughnasadh (Festa de Lugh). Onde ocorrem vários jogos de força e habilidade, afinal Lugh é Skilled em Todas as Artes....
..............................................................Livia Ulian

sábado, 21 de junho de 2008

Esplendor na Relva!



Quando eu era pequena assisti a um filme que só hoje consegui entender. Sou daquelas pessoas que adoram assistir ao mesmo filme e prefiro que eles estejam sendo exibidos na programação e não disponíveis no meu arquivo. Com isso compro a maioria dos filmes que gosto, mas eles são pouco utilizados. Só a Cristina entende isso!

Voltando ao assunto.... Só assisti uma vez o filme em questão e lembro que ao final foram só lágrimas, eu chorava prum lado, minha mãe pro outro e meu pai balançava a cabeça achando nós duas muito bobas.

Claro que era um filme bem água com açúcar. Ela uma moça bem simples e digna e ele o riquinho da cidade. Inadvertidamente se apaixonaram, namoraram escondido e até "fizeram amor" (SIC), não foi só sexo! Mas a cidade do interior dos USA não permitira o relacionamento de categorias sociais tão distintas e os dois se separaram. Ela como não poderia deixar de ser ficou muito mal falada na cidade e o garanhão casou com uma bela donzela. Anos se passam e a família rica perde tudo. Nessa hora imaginei que agora ele poderia viver o grande amor que todos sabiam que sentiam um pelo outro - mas não, quando se reencontraram ela não sentia mais nada! Eu nunca entendi isso, achava que o amor durava para sempre.

Hoje dei de cara com o poema que era recitado por ela ao final do filme e finalmente entendi...

Sinta a alegria de Maio!
A luz que brilhava com tanta intensidade,
Foi levada para sempre dos meus olhos.
Embora nada possa devolver os momentos
De esplendor na relva e de glória em flor;
Não nos afligiremos, melhor,
Encontraremos força no que ficou pra trás;
Na harmonia inicial que deveria ter sido;
Em suaves pensamentos que saltam o sofrimento humano;
Na fé que contempla a ideia da morte,
Nos anos que trazem a mente filosófica.
(Ode: Intimations of Immortality from Recollections of Early Childhood, 175-186)

Me perdoem aqueles que amam a William Woodsworth, mas a tradução acima é minha e portanto completamente parcial e livre.

.............................................................Livia Ulian

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Sexta-Feira 13!


Dizem que a Sexta-feira 13 é um dia de azar, aziago. Muitos acreditam que foi por causa da cachorrada que o Filipe fez com o Jacques – mas mesmo antes disso o Tarot já chamava a carta 13 de Morte – tudo bem, todos sabemos que morte é transformação e não necessariamente “bater as botas” – então podemos pensar que esse dia é um dia de transformação.
Vamos aos poucos fatos da origem provável do boato, sob meu ponto de vista.

O Rei Filipe o Belo de França estava duro. A realidade nua e crua, era que não tinha dinheiro nenhum, mesmo depois de ter dado o golpe do baú em Joana I de Navarra, continuava com sua pirataria em terra. Não tendo de onde mais tirar dinheiro, com impostos muito altos e o povo passando fome, pousou seus olhos sobre a Ordem dos Templários (nem de perto eram santos) e descobriu que esta tinha muito dinheiro. Procurou por cúmplices de peso, e quem podia ser mais pesado que o Papa? Talvez um um contador. Exatamente, conseguiu as duas melhores desculpas que um humano poderia. O papa Clemente V para chamar os templários de hereges e o ministro Guillerme de Nogaret para chamá-los de ladrões. Isto posto, agora é só perseguição!

No dia 13 de Outubro de 1307, eles declaram ilegal a Ordem dos Templários. Começam a perseguição, prendendo e matando os cavaleiros Templários por todo o país. A grande sacada foi, como a Ordem respondia diretamente ao Papa, não acharam nada estranho serem chamados pelos organismos religiosos a comparecer diante do “pároco” para receber uma mensagem, portanto foram todos despreparados e pegos de grande surpresa. E só poderia ser desta maneira, pois a ordem era uma organização militar e ninguém em sã consciência iria querer entrar em disputa com eles. Foram enganados!

Anos passaram com eles perseguindo e torturando Templários até que em 18 de Março de 1314, deram o golpe final queimando na lle de la Cité, Monsieur Jacques de Molay. É cantado em verso e prosa que nessa hora o grão-mestre roga uma praga nos seus três carrascos – e quem não o faria. Imaginem o efeito de estar queimando e tirar forças do fundo da alma e cuspir uma maldição – a cidade toda assistindo acaba por corroborar a praga. Diz monsieur Druon que a praga era que em menos de 12 meses os três o teriam acompanhado. Vamos ver então:

Primeiro morre o Papa, o traidor: 20 de Abril de 1314

Segundo morre Filipe, o rei devedor: 29 de Novembro de 1314

Terceiro morre Guilherme o contador: 1314 – infelizmente não se sabe o dia exato.

Sabemos que o papa Clemente V estava nas últimas, quando mandou queimar o grão-mestre, mas vamos dar um crédito para nossa praga - o Filipe, por sua vez teve um derrame, na verdade acreditam que ele caiu do cavalo e acabou por morrer da lesão, que na hora não pareceu ser grave. Agora o contador tinha saúde e existe quem diga que precisou de uma certa “ajuda” para a maldição ser cumprida. Vai saber né!

O que dá azar não é a Sexta-feira 13, é ser inimigo do Rei.... Mas nada que um Boa Maldição a Beira da Morte não resolva....

....................................................................Livia Ulian

segunda-feira, 12 de maio de 2008

A Festa de Belenos!



... Naquele ano a fogueira havia sido acesa na colina mais alta que circundava nosso povoado, era enorme e parecia mais brilhante do que nunca. Os troncos usados eram uma mistura de cedro e carvalho que deitavam sobre nós um aroma definitivamente masculino, invadindo as casas e formando desenhos disformes com sua fumaça prateada.

As flores dispostas nas janelas e que nasciam em todos os jardins, embelezavam o ambiente deixando-o mais delicado. Mesas com frutos multicoloridos se espalhavam pela praça e com elas a alegria tomava conta dos filhos de Danann. Várias pequenas fogueiras foram acesas por todo o povoado e formavam um círculo protetor. Entre a praça e o sopé da colina foi levantado o Maypole com sua tiras de muitas cores, tecidas pelas mãos hábeis das mulheres da vila.

Este ano era especial pra mim, talvez por isso tudo parecesse mais bonito. Eu havia chegado a idade de participar do ritual e quem sabe ser abençoada com a união. Estava realmente ansiosa, usei as ervas certas ensinadas por minha mãe para os banhos, preparei os perfumes na lua cheia, confeccionei os enfeites conforme o costume. Tudo estava perfeito!

Naquela noite, corri para o meio da floresta com a certeza de encontrar aquele que seria para sempre o meu par...

Hoje, ainda lembro e sei que estaremos juntos novamente! Que assim seja!!!


Memórias de Todas as Vidas
Out/16' 2006
................................................................Livia Ulian

domingo, 13 de abril de 2008

Os Gênios da Humanidade!

Os Gênios da Humanidade são cinco Epagômeros e que juntos formam o Pentaedro Sagrado. Esses seres especiais tinham o poder de presidir as forças dos 5 elementos (terra, água, fogo, ar e éter) e seus elementais correspondentes e governam 5 dias específicos do ano: Jan/05, Mar/19, Mai/31, Ago/12 e Out/24... Reza a lenda que se você nasceu em um desses dias tem como missão guardar a humanidade e pode escolher um anjo, dentre os 72 existentes, para seu guardião nessa tarefa. Pois é, nascer tendo uma anjo pré-determinado é simples, porém poder escolher o seu é uma tarefa nada fácil...

Mas não é desse tipo de Gênio da Humanidade que quero falar e sim de um muito diferente, que para ser exata morreu no dia 19 de Março 2008... Arthur Charles Clarke!

Clarke não escolheu seu anjo, mas foi escolhido por um! Tão esperta essa criatura celeste, que pediu ajuda aos seus companheiros divinos no dia em que teve que retirar seu protegido do planeta. Confesso, se eu fosse um anjo, também ficaria temerosa em fazê-lo. Mas de qualquer modo era necessário, pois tinham que recuperar aquele que estava distante há 90 anos.

Sempre temos que começar por algum lugar e ele começou bem, durante a Segunda Guerra Mundial era controlador do primeiro Radar por Transmissão de Rádio da Inglaterra. Esses radares foram de vital importância na previsão de ataques inimigos, calculando a distância, velocidade e direção do ataque. Isso não evitou que Londres fosse bombardeada, mas possibilitou aos ingleses alertar a população para se proteger. Deviam ser madrugadas longas, sempre esperando um ataque alemão, e em um momento destes, ele começou a escrever. Sorte nossa! Como um sagitariano normal, ele resolve estudar física e matemática e mostrar ao mundo que ciência é arte. Ciência é Mágica, é uma maneira pura de ver o mundo, e para corroborar isso, na primavera de 1964 Kubrick e Clarke se unem dando os primeiros passos da nossa odisséia.

Clarke se retirou de cena antes que o ano de Júpiter chegasse ao fim, afinal era seu filho e fez com que o mundo olhasse o Gigante de outra forma. Quem assistiu A Odisséia no Espaço, poderia esperar acordar um dia e encontrar no céu o romântico segundo sol, mas a partir hoje, pode também esperar que o asteróide Clarke (4923 da Cintura Principal), seja um dia nossa segunda lua em uma órbita geoestacionária, o Sentinela, esperando para saber se nós e nossos descendentes chegaremos a ter Futuro!

............................................................Livia Ulian

sexta-feira, 4 de abril de 2008

O Dia da Lua!

Devia ser um dia comum, onde eu aprontava alguma arte comum a uma criança de 8 anos, mas nesse dia ganhei de presente uma lição que passou a fazer parte da minha vida! Isso foi especial, me diferenciou. - Minha mãe disse: "Hoje é dia da Lua".... Claro que eu não entendi, afinal nós aqui no Brasil não estamos acostumados a pensar assim, mas uma criança Inglesa, Alemã, Italiana e até mesmo Argentina da mesma idade, saberia.

Não adianta falar uma coisa assim pra mim e tentar sair como se nada tivesse acontecido. O mundo acabava de mudar, a chata da segunda-feira tinha acabado de virar um Belo Dia da Lua. Como essa notícia me deixou feliz, acredito mesmo que ninguém possa imaginar como isso mudou tudo pra mim! Sentei e esperei a enorme explicação, afinal minha mãe sabia muitas coisas relevantes.

Até que a explicação foi simples para a minha compreensão na época - em todos os países de língua latina e nos de idioma anglo-saxão, cada dia da semana era dedicado a um planeta ou deus. Minha mãe me explicou os planetas, porque eles tinham aqueles nomes e de onde vieram os deuses gregos e romanos. Eu vi o Olimpo! Imaginem a minha sensação, como tudo se tornou importante, ao ouvir que o deus que cuidava das pessoas do meu signo era Zeus, o maioral, o Meu deus agora tinha Nome... ZEUS! Como consequência passei a gostar das quintas-feiras mais que dos outros dias da semana, era o dia deu falar com Zeus.

Fui compartilhar a grande informação na escola, um colégio de freiras, só que minha explicação não era tão cheia de conteúdo e lógica como a da minha mãe, mas eu tentei. Tenho que dizer a todos que a informação ficou desacreditada, parecia viagem de criança, porém o mais interessante é que a partir deste dia eu entendi, que minhas amiguinhas não sabiam aquilo porque a mãe delas também não sabia, só a minha mãe. A informação tinha mais força ainda!

Passei a procurar informações relacionadas e a aprendê-las, no começo juntava papel, mas depois descobri que não precisava, pois eu sabia tudo de cor e salteado. Me interessava!

Um belo dia, na primeira aula de francês, tudo veio a toma! Pensando hoje, poderia ter sido na aula de inglês, mas a professora era tão desinteressada que a classe só sabia falar: My name is Vicky! Voltemos ao francês, Mademoiselle Arlete nos ensinou, dentre tantas coisas, os dias da semana e teve a delicadeza de dar exatamente a mesma explicação da minha mãe. Foi como um jogo de adivinhar, antes de dizer como era o nome do dia, ela falava: "segunda-feira é o dia da Lua então como deve ser falado em francês?" e a única a saber era euzinha... Lundi e por aí vai.... Foi nesse mesmo ano que começamos a estudar História Geral (até então tínhamos somente História do Brasil), e todo o panteão egípcio, grego, romano, emergiu do tártaro.

Para nós hoje, já grandinhos, isso parece tão óbvio, comum, mas pense em uma criança que ainda não teve contato com isso, experimente contar sobre o Dia da Lua...

.............................................Livia Ulian

terça-feira, 1 de abril de 2008

Dia de Loki - 1º de Abril

Tu, irmão de sangue do Alfather
O esquecido e desterrado
Teu nome esta silenciado
Porém vives em nosso coração

Senhor do fogo que ilumina e transmuta
Senhor do eco apagado
Senhor da burla maliciosa
Deus da brincadeira perversa

Senhor de dualidades
Deus dos conhecimentos ocultos
Comedor de corações malvados
Deus das diversas paixões

Te chamam na hora da necessidade
Quando nenhum outro deus acode
Tu sempre estas a observar
Disposto a ajudar-nos

Tu, guardião desta irmandade
Progenitor de mistérios e entropias
As forças da natureza estão na tua semente
Tu que voas baixo nas asas do falcão

Teu sorriso gela os corações
Tua presença ilumina qualquer mentira
Tu vês a verdadeira natureza
Caótica cambiante

Companheiro de viagem do As Donar
Viajante do lindo céu Lopt
Tu, Lodur um dos criadores da humanidade
Quando a tradição é ameaçada tu apareces

Como preservador tu nutres
Tu chamas aos que devem estar
Para cegar aos Deuses
Primeiro o teu caminho devem encontrar

Sobre tuas provas devem passar
Seus espíritos devem aplacar
Com o fogo purificar
E no processo sua fé encontrar

Os visigodos eternos viajantes
Damos um brinde em tua honra
Reconhecemos-te como deus
Nosso amigo e protetor

Dai-nos tua força e sabedoria
Para que o Folk Visigoth renasça
Que a nação da águia floresça
Ao abrigo do fogo criador

Poema do Deus Loki
Autor: Gothi Hoen Falker
Tradução: Druhtinaz Altheis Araswarts

terça-feira, 18 de março de 2008

Toca Raul

Juro que não entendi! Vou contar e talvez alguém me explique.

Estávamos na praia neste final de ano e encontramos um quiosque que tocava rock até o último freguês... Claro que não era o quiosque e sim os músicos que tocavam!
Inacreditável, não precisaríamos ouvir axé-music e afins. Enfim ficamos felizes práca.
A banda era de Sampa e pelo que entendi costuma tocar em um bar na Madalena (se os vir novamente reconheço, mas não me perguntem o nome deles hoje!). O repertório era bem legal, todo estilo de rock e incentivavam pedidos. Em resumo os três caras faziam um som muito bom (detalhe, sem bateria).
Na hora do faça seu pedido que nós tentamos tocar, o inevitável TOCA RAUUUULLL, surgiu e durante três noites, os caras fingiam não ouvir e sempre davam um jeito de passar músicas na frente até a platéia esquecer o pedido de Raul.
Taí, eu não me conformo com essas coisas e resolvi perguntar. A oportunidade chegou quando dois deles vieram até nossa mesa: Então, porque vocês ignoram o Toca Raul? Para minha surpresa um deles me disse, corroborado pelo outro, que é um consenso e que músicos da noite não gostam de tocar Raul. Pasmei mas não desisti: Por quê? E o figura disse: Porque sim, deixa pra lá...
Até entendo ele não ter me respondido, afinal eu podia ser uma FãNática e encher o saco...

E eu fiquei sem saber... Afinal foram eles que incentivaram as pessoas a pedir músicas que queriam ouvir...

Uma certeza eu tenho – Quem conhece o Hélio e o Humberto não ficará sem resposta....

Enquanto isso... Toca Rauuuullllllll
.........................................................Livia Ulian


Sentar e Olhar o Mundo...
Nem sei quanto tempo sou capaz de fazer isso, a sensação é de Poder... Sentada aqui eu ví Posseidon sair do Mar, levantando ondas que quase me atingiam, vir em direção a praia descansar para se divertir com seus novos brinquedinhos.

E daí se a humanidade está rastejando em sua direção. Nesse momento são somente peixes saindo da água e aprendendo a respirar

segunda-feira, 17 de março de 2008

Um Ano Novo para lá das Calendas Gregas

Como tenho que começar por algum lugar, e já que vou falar de tempo, resolvi que o melhor seria começar pelo início. Mas como creio que as coisas vêem em ciclos busquei início na Roda do Ano, e o ponto para o Meu Início é Março, afinal Livia é um nome romano e o calendário da antiga Roma começava em Março.
Que o Ano comece em Ostara, Pessach, Páscoa!
Vejam bem, Ostara nas antigas culturas simboliza o renascimento, as mudanças e a passagem. Denotava também a capacidade de renascer e renovar-se periodicamente, libertar-se do que é velho e abrir-se para o novo. Na simbologia cósmica, significa o renascimento após a morte, a meu ver a carta da Morte no Tarot (só nesse ponto, Ostara/Tarot tem pano para muitas mangas).
Como a mulher trás a vida dentro de si e as sociedades antigas eram inicialmente matriarcais, a simbologia recaiu sobre deusas de fertilidade, Eostre para os celtas, Astarte (Fenícia), Kali (hindu), Hathor (egípcia), Afrodite (grega), Perséfone e por aí vai. Todas estas divindades estão relacionadas à lua nova e a nova vida, assim como a vida após a morte e ao renascimento. Veja a semelhança do nome da deusa Eostre e Easter (que significa Páscoa em inglês).
Mais recentemente, porém ainda bem antigo e sob o mesmo período, temos a libertação do povo Judeu da escravidão, a comemoração da Pessach, que em hebraico significa passagem. Esta comemoração se inicia na primeira lua cheia após o equinócio de primavera. Esse período me parece energeticamente positivo para esses re-começos, não acho que Moises pensou em Hathor e tomou a decisão de deixar o Egito e sim que esta conjunção astrológica leva a estas situações. Até aqui entendo que as civilizações antigas tinham seu ano baseado na Lua.
Já a Páscoa cristã recebeu o nome da comemoração judaica porque a Paixão de Cristo aconteceu no início do Pessach – e a Última Ceia teria sido um Seder, o tradicional jantar realizado na véspera do início da Pessach. Apesar de receberem o mesmo nome, as duas celebrações não ocorrem exatamente na mesma data, pois a Páscoa cristã é comemorada no primeiro domingo de lua cheia depois do equinócio de primavera. Novamente uma situação de libertação e/ou renascimento no mesmo período, decididamente não pode ser uma coincidência.
A mudança do calendário Juliano para o Gregoriano deu-se ao longo de três séculos e tivemos muita confusão, imaginem que o ano para os romanos começava em Março, tinham dez meses e os dias dos meses não eram numerados, como são hoje, mas sim contados em relação às calendas, nonas e idos, como pontos de referência.
Outros calendários esotéricos têm datas diferentes para o início do ano, por exemplo na Wicca o ano começa em Samhaim (isto é no Halloween) e pelo Calendário da Paz (Maia) o ano começa no dia 26 de Julho, já pelo Chinês o ano começou em 07 de Fevereiro, devem existir mais, porém isto é do que eu me lembro.
Então o bom é juntar Tudo e escolher a data do seu Ano Novo, pensando no seu signo, ascendente, crença religiosa, origem da família e qualquer outro parâmetro que lhe faça Feliz. O Meu Ano começa em Ostara, sob o signo Cardinal de Áries e sua energia iniciadora... e veja que máximo, esse é um ano de Marte.

......................................................................Livia Ulian

segunda-feira, 10 de março de 2008

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que alguém sonhou.
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

...........................................Florbela Espanca

domingo, 9 de março de 2008

Sir Winston Churchill

30 de Novembro 1874 a 24 de Janeiro de 1965... Sagitariano!

"A Maior lição da vida é a de que, às vezes, até os tolos têm razão"

"Estou sempre disposto a aprender, mas nem sempre gosto que me ensinem"

"Eu não sou exigente, eu me contento com o que há de melhor"

"Um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado"

"Um prisioneiro de guerra é um homem que tentou matá-lo, não conseguiu e agora implora para que você não o mate"

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Edgar Allan Poe : O Poço e o Pêndulo

Ímpia tortorúm longos hic turba furores Sanguinis innocui, non satiata, aluit. Sospite nunc patria, fracto nunc funeris antro, Mors ubi dira fuit vita salusque patent.

Aqui, a multidão ímpia dos carrascos, insaciada, alimentou sua sede violenta de sangue inocente. Agora, salva a pátria, destruído o antro do crime, reinam a vida e a salvação onde reinava a cruel morte.(Quadra composta para as portas de um mercado a ser erigido no terreno do Clube dos Jacobinos, em Paris)Estava exausto, mortalmente exausto com aquela longa agonia e, quando por fim me desamarraram e pude sentar-me, senti que perdia os sentidos. A sentença - a terrível sentença de morte - foi à última frase que chegou, claramente, aos meus ouvidos. Depois, o som das vozes dos inquisidores pareceu apagar-se naquele zumbido indefinido de sonho. O ruído despertava em minha alma a idéia de rotação, talvez devido à sua associação, em minha mente, com o ruído característico de uma roda de moinho. Mas isso durou pouco, pois, logo depois, nada mais ouvi. Não obstante, durante alguns momentos, pude ver, mas com que terrível exagero! Via os lábios dos juízes vestidos de preto. Pareciam-me brancos, mais brancos do que a folha de papel em que traço estas palavras, e grotescamente finos - finos pela intensidade de sua expressão de firmeza, pela sua inflexível resolução, pelo severo desprezo ao sofrimento humano. Via que os decretos daquilo que para mim representava o destino saíam ainda daqueles lábios. Vi-os contorcerem-se numa frase mortal; vi-os pronunciarem as sílabas de meu nome - e estremeci, pois nenhum som lhes acompanhava os movimentos. Vi, também, durante alguns momentos de delírio e terror, a suave e quase imperceptível. ondulação das negras tapeçarias que cobriam as paredes da sala, e o meu olhar caiu então sobre as sete grandes velas que estavam em cima da mesa. A princípio, tiveram para mim o aspecto de uma claridade, e pareceram-me anjos brancos e esguios que deveriam salvar-me. Mas, de repente, uma náusea mortal invadiu-me a alma, e senti que cada fibra de meu corpo estremecia como se houvesse tocado os fios de uma bateria galvânica. As formas angélicas se converteram em inexpressivos espectros com cabeças de chama, e vi que não poderia esperar delas auxílio algum. Então, como magnífica nota musical, insinuou-se em minha imaginação a idéia do doce repouso que me aguardava no túmulo. Chegou suave, furtivamente - e penso que precisei de muito tempo para apreciá-la devidamente. Mas, no instante preciso em que meu espírito começava a sentir e alimentar essa idéia, as figuras dos juízes se dissiparam, como por arte de mágica, ante os meus olhos. As grandes velas reduziram-se a nada; suas chamas se apagaram por completo e sobreveio o negror das trevas; todas as sensações pareceram desaparecer como numa queda louca da alma até o Hades. E o universo transformou-se em noite, silêncio, imobilidade.Eu desmaiara; mas, não obstante, não posso dizer que houvesse perdido de todo a consciência. Não procurarei definir, nem descrever sequer, o que dela me restava. Nem tudo, porém, estava perdido. Em meio do mais profundo sono... não! Em meio do delírio... não! Em meio do desfalecimento. . . não! Em meio da morte... não! Nem mesmo na morte tudo está perdido. Do contrário, não haveria imortalidade para o homem. Quando despertamos do mais profundo sono, desfazemos as teias de aranha de algum sonho. E, não obstante, um segundo depois não nos lembramos de haver sonhado, por mais delicada que tenha sido a teia. Na volta a vida, depois do desmaio, há duas fases: o sentimento da existência moral ou espiritual e o da existência física. Parece provável que, se ao chegar à segunda fase tivéssemos de evocar as impressões da primeira, tornaríamos a encontrar todas as lembranças eloqüentes do abismo do outro mundo. E qual é esse abismo? Como, ao menos, poderemos distinguir suas sombras das do túmulo?Mas, se as impressões do que chamamos primeira fase não nos acodem de novo ao chamado da vontade, acaso não nos aparecem depois de longo intervalo, sem ser solicitadas, enquanto, maravilhados, perguntamos a nós mesmos de onde provêm? Quem nunca perdeu os sentidos não descobrirá jamais estranhos palácios e rostos singularmente familiares entre as chamas ardentes; não contemplará, flutuante no ar, as melancólicas visões que muitos talvez jamais contemplem; não meditará nunca sobre o perfume de alguma flor desconhecida, nem mergulhará no mistério de alguma melodia que jamais lhe chamou antes a atenção.Em meio de meus freqüentes e profundos esforços para recordar, em meio de minha luta tenaz para apreender algum vestígio desse estado de vácuo aparente em que minha alma mergulhara, houve breves, brevíssimos instantes em que julguei triunfar, momentos fugidios em que cheguei a reunir lembranças que, em ocasiões posteriores, meu raciocínio, lúcido, me afirmou não poderem referir-se senão a esse estado em que a consciência parece aniquilada. Essas sombras de lembranças apresentavam, indistintamente, grandes figuras que me carregavam, transportando-me, silenciosamente, para baixo... para baixo... ainda mais para baixo... até que uma vertigem horrível me oprimia, ante a idéia de que não tinha mais fim tal descida. Também me lembro de que despertavam um vago horror no fundo de meu coração, devido precisamente à tranqüilidade sobrenatural desse mesmo coração. Depois, o sentimento de uma súbita imobilidade em tudo o que me cercava, como se aqueles que me carregavam (espantosa comitiva!) ultrapassassem, em sua descida, os limites do ilimitado, e fizessem uma pausa, vencidos pelo cansaço de seu esforço. Depois disso, lembro-me de uma sensação de monotonia e de umidade. Depois, tudo é loucura - a loucura da memória que se agita entre coisas proibidas.Súbito, voltam à minha alma o movimento e o som - o movimento tumultuoso do coração e, em meus ouvidos, o som de suas batidas. Em seguida, uma pausa, em que tudo é vazio. Depois, de novo, o som, o movimento e o tato, como uma sensação vibrante que penetra em meu ser. Logo após, a simples consciência da minha existência, sem pensamento - estado que durou muito tempo. Depois, de maneira extremamente súbita, o pensamento, e um trêmulo terror - o esforço enorme para compreender o meu verdadeiro estado. Logo após, vivo desejo de mergulhar na insensibilidade. Depois, um brusco renascer da alma e um esforço bem sucedido para mover-me. E, então, a lembrança completa do que acontecera, dos juízes, das tapeçarias negras, da sentença, da fraqueza, do desmaio. Esquecimento completo de tudo o que acontecera - e que somente mais tarde, graças aos mais vivos esforços, consegui recordar vagamente.Até então, não abrira ainda os olhos. Sentia que me achava deitado de costas, sem que estivesse atado. Estendi a mão e ela caiu pesadamente sobre alguma coisa úmida e dura. Deixei que ela lá ficasse durante muitos minutos, enquanto me esforçava por imaginar onde é que eu estava e o que é que poderia ter acontecido comigo. Desejava, mas não me atrevia a fazer uso dos olhos. Receava o primeiro olhar sobre as coisas que me cercavam. Não que me aterrorizasse contemplar coisas terríveis, mas tinha medo de que não houvesse nada para ver. Por fim, experimentando horrível desespero em meu coração, abri rapidamente os olhos. Meus piores pensamentos foram, então, confirmados. Envolviam-me as trevas da noite eterna. Esforcei-me por respirar. A intensidade da escuridão parecia oprimir-me, asfixiar-me. O ar era intoleravelmente pesado. Continuei ainda imóvel, e esforcei-me por fazer uso da razão. Lembrei-me dos procedimentos inquisitoriais e, partindo daí, procurei deduzir qual a minha situação real.A sentença fora proferida, e parecia-me que, desde então, transcorrera longo espaço de tempo. Não obstante, não imaginei um momento sequer que estivesse realmente morto. Tal suposição, pese o que lemos nos livros de ficção, é absolutamente incompatível com a existência real. Mas onde me encontrava e qual era o meu estado? Sabia que os condenados à morte pereciam, com freqüência, nos autos-de-fé - e um desses autos havia-se realizado na noite do dia em que eu fora julgado. Teria eu permanecido em meu calabouço, à espera do sacrifício seguinte, que não se realizaria senão dentro de muitos meses? Vi, imediatamente, que isso não poderia ser. As vítimas eram exigidas sem cessar. Além disso, meu calabouço, bem como as celas de todos os condenados, em Toledo, tinha piso de pedra e a luz não era inteiramente excluída.De repente, uma idéia terrível acelerou violentamente o sangue em meu coração e, durante breve espaço, mergulhei de novo na insensibilidade. Ao recobrar os sentidos, pus-me logo de pé, a tremer convulsivamente. Alucinado, estendi os braços para o alto e em torno de mim, em todas as direções. Não senti nada. Não obstante, receava dar um passo, com medo de ver os meus movimentos impedidos pelos muros de um túmulo. O suor brotava-me de todos os poros e grossas gotas frias me salpicavam a testa. A angústia da incerteza tornou-se, por fim, insuportável e avancei com cautela, os braços estendidos, os olhos a saltar-me das órbitas, na esperança de descobrir algum tênue raio de luz. Dei muitos passos, mas, não obstante, tudo era treva e vácuo. Sentia a respiração mais livre. Parecia-me evidente que o meu destino não era, afinal de contas, o mais espantoso de todos.Continuei a avançar cautelosamente e, enquanto isso, me vieram à memória mil vagos rumores dos horrores de Toledo. Sobre calabouços, contavam-se coisas estranhas - fábulas, como eu sempre as considerara; coisas, contudo, estranhas, e demasiado horríveis para que a gente as narrasse a não ser num sussurro. Acaso fora eu ali deixado para morrer de fome naquele subterrâneo mundo de trevas, ou quem sabe um destino ainda mais terrível me aguardava? Conhecia demasiado bem o caráter de meus juízes para duvidar de que o resultado de tudo aquilo seria a morte, e uma morte mais amarga do que a habitual. Como seria ela e a hora de sua execução eram os únicos pensa-mentos que me ocupavam o espírito, causando-me angústia.Minhas mãos estendidas encontraram, afinal, um obstáculo sólido. Era uma parede que parecia de pedra, muito lisa, úmida e fria. Segui junto a ela, caminhando com a cautelosa desconfiança que certas narrações antigas me haviam inspirado. Porém, essa operação não me proporcionava meio algum de averiguar as dimensões de meu calabouço; podia dar a volta e tornar ao ponto de partida sem perceber exatamente o lugar em que me encontrava, pois a parede me parecia perfeitamente uniforme. Por isso, procurei um canivete que tinha num dos bolsos quando fui levado ao tribunal, mas havia desaparecido. Minhas roupas tinham sido substituídas por uma vestimenta de sarja grosseira. A fim de identificar o ponto de partida, pensara em enfiar a lâmina em alguma minúscula fenda da parede. A dificuldade, apesar de tudo, não era insuperável, embora, em meio à desordem de meus pensamentos, me parecesse, a princípio, uma coisa insuperável. Rasguei uma tira da barra de minha roupa e coloquei-a ao comprido no chão. formando um ângulo reto com a parede. Percorrendo as palpadelas o caminho em torno de meu calabouço, ao terminar o circuito teria de encontrar o pedaço de fazenda. Foi, pelo menos, o que pensei; mas não levara em conta as dimensões do calabouço, nem a minha fraqueza. O chão era úmido e escorregadio. Cambaleante, dei alguns passos, quando, de repente, tropecei e caí. Meu grande cansaço fez com que permanecesse caído e, naquela posição, o sono não tardou em apoderar-se de mim.Ao acordar e estender o braço, encontrei ao meu lado um pedaço de pão e um púcaro com água. Estava demasiado exausto para pensar em tais circunstâncias, e bebi e comi avidamente. Pouco depois, reiniciei minha viagem em torno do calabouço e, com muito esforço, consegui chegar ao pedaço de sarja. Até o momento em que caí, já havia contado cinqüenta e dois passos e, ao recomeçar a andar até chegar ao pedaço de pano, mais quarenta e oito. Portanto, havia ao todo cem passos e, supondo que dois deles fossem uma jarda, calculei em cerca de cinqüenta jardas a circunferência de meu calabouço. No entanto, deparara com numerosos ângulos na parede, e isso me impedia de conjeturar qual a forma da caverna, pois não havia dúvida alguma de que se tratava de uma caverna.Tais pesquisas não tinham objetivo algum e, certamente, eu não alimentava nenhuma esperança; mas uma vaga curiosidade me Ievava a continuá-las. Deixando a parede, resolvi atravessar a área de minha prisão. A princípio, procedi com extrema cautela, pois o chão, embora aparentemente revestido de material sólido, era traiçoeiro, devido ao limo. Por fim, ganhei coragem e não hesitei em pisar com firmeza, procurando seguir cm linha tão reta quanto possível. Avancei, dessa maneira, uns dez ou doze passos, quando o que restava da barra de minhas vestes se emaranhou em minhas pernas. Pisei num pedaço da fazenda e caí violentamente de bruços.Na confusão causada pela minha queda, não reparei imediatamente numa circunstância um tanto surpreendente, a qual, no entanto, decorridos alguns instantes, enquanto me encontrava ainda estirado, me chamou a atenção. Era que o meu queixo estava apoiado sobre o chão da prisão, mas os meus lábios e a parte superior de minha cabeça, embora me parecessem colocados numa posição menos elevada do que o queixo, não tocavam em nada. Por outro lado, minha testa parecia banhada por um vapor pegajoso, e um cheiro característico de cogumelos em decomposição me chegou às narinas. Estendi o braço para a frente e tive um estremecimento, ao verificar que caíra bem junto às bordas de um poço circular cuja circunferência, naturalmente, não me era possível verificar no momento. Apalpando os tijolos, pouco abaixo da boca do poço, consegui deslocar um pequeno fragmento e deixei-o cair no abismo. Durante alguns segundos, fiquei atento aos seus ruídos, enquanto, na queda, batia de encontro às paredes do poço; por fim, ouvi um mergulho surdo na água, seguido de ecos fortes. No mesmo momento, ouvi um som que se assemelhava a um abrir e fechar de porta. acima de minha cabeça, enquanto um débil raio de luz irrompeu subitamente através da escuridão e se extinguiu de pronto.Percebi claramente a armadilha que me estava preparada, e congratulei-me comigo mesmo pelo oportuno acidente que me fizera escapar de tal destino. Outro passo antes de minha queda, e o mundo jamais me veria de novo. E a morte de que escapara por pouco era daquelas que eu sempre considerara como fabulosas e frívolas nas narrações que diziam respeito à Inquisição. Para as vítimas de sua tirania, havia a escolha entre a morte com as suas angústias físicas imediatas e a morte com os seus espantosos horrores morais. Eu estava destinado a esta última. Devido aos longos sofrimentos, meus nervos estavam à flor da pele, a ponto de tremer ao som de minha própria voz, de modo que era, sob todos os aspectos, uma vítima adequada para a espécie de tortura que me aguardava.Tremendo dos pés à cabeça, voltei, às apalpadelas, até a parede, resolvido antes a ali perecer do que a arrostar os terrores dos poços, que a minha imaginação agora pintava. em vários lugares do calabouço. Em outras condições de espírito, poderia ter tido a coragem de acabar de vez com a minha miséria, mergulhando num daqueles poços; mas eu era, então, o maior dos covardes. Tampouco podia esquecer o que lera a respeito daqueles poços: que a súbita extinção da vida não fazia parte dos planos de meus algozes.A agitação em que se debatia o meu espírito fez-me permanecer acordado durante longas horas; contudo, acabei por adormecer de novo. Ao acordar, encontrei ao meu lado, como antes, um pão e um púcaro com água. Consumia-me uma sede abrasadora, e esvaziei o recipiente de um gole só. A água devia conter alguma droga, pois, mal acabara de beber, tornei-me irresistivelmente sonolento. Invadiu-me profundo sono - um sono como o da morte. Quanto tempo aquilo durou, certamente, não posso dizer; mas, quando tornei a abrir os olhos, os objetos em torno eram visíveis. Um forte clarão cor de enxofre, cuja origem não pude a princípio determinar, permitia-me ver a extensão e o aspecto da prisão.Quanto ao seu tamanho, enganara-me completamente. A extensão das paredes, em toda a sua. volta, não passava. de vinte e cinco jardas. Durante alguns minutos, tal fato me causou um mundo de preocupações inúteis. Inúteis, de fato, pois o que poderia ser menos importante, nas circunstâncias em que me encontrava, do que as simples dimensões de minha cela? Mas minha alma se interessava vivamente por coisas insignificantes, e eu me empenhava em explicar a mim mesmo o erro cometido em meus cálculos. Por fim, a verdade fez-se-me subitamente clara. Em minha primeira tentativa de exploração, eu contara cinqüenta e dois passos até o momento em que caí; devia estar, então, a um ou dois passos do pedaço de sarja; na verdade, havia quase completado toda a volta do calabouço. Nessa altura, adormeci e, ao despertar, devo ter voltado sobre meus próprios passos - supondo, assim, que o circuito do calabouço era quase o dobro do que realmente era. A confusão de espírito em que me encontrava impediu-me de notar que começara a volta seguindo a parede pela esquerda, e que a terminara seguindo-a para a direita.Enganara-me, também, quanto ao formato da cela. Ao seguir o meu caminho, deparara com muitos ângulos, o que me deu idéia de grande irregularidade, tão poderoso é o efeito da escuridão total sobre alguém que desperta do sono ou de um estado de torpor! Os ângulos não passavam de umas poucas reentrâncias, ou nichos, situadas em intervalos iguais. A forma geral da prisão era retangular. O que me parecera alvenaria, parecia-me, agora, ferro, ou algum outro metal, disposto em enormes pranchas, cujas suturas ou juntas produziam as depressões. Toda a superfície daquela construção metálica era revestida grosseiramente de vários emblemas horrorosos e repulsivos nascidos das superstições sepulcrais dos monges. Figuras de demônios de aspectos ameaçadores, com formas de esqueleto, bem como outras imagens ainda mais terríveis, enchiam e desfiguravam as paredes. Observei que os contornos de tais monstruosidades eram bastante nítidos, mas que as cores pareciam desbotadas e apagadas, como por efeito da umidade. Notei, então, que o piso era de pedra. Ao centro, abria-se o poço circular de cujas fauces eu escapara - mas era o único existente no calabouço.Vi tudo isso confusamente e com muito esforço, pois minha condição física mudara bastante durante o sono. Estava agora estendido de costas numa espécie de andaime de madeira muito baixo, ao qual me achava fortemente atado por uma longa tira de couro. Esta dava muitas voltas em torno de meus membros e de meu corpo, deixando apenas livre a minha cabeça e o meu braço esquerdo, de modo a permitir que eu, com muito esforço, me servisse do aumento que se achava sobre um prato de barro, colocado no chão. Vi, horrorizado, que o púcaro havia sido retirado, pois uma sede intolerável me consumia. Pareceu-me que a intenção de meus verdugos era exasperar essa sede, já que o alimento que o prato continha consistia de carne muita salgada.Levantei os olhos e examinei o teto de minha prisão. Tinha de nove a doze metros de altura e o material de sua construção assemelhava-se ao das paredes laterais. Chamou-me a atenção uma de suas figuras, bastante singular. Era a figura do Tempo, tal como é comumente representado, salvo que, em lugar da foice, segurava algo que me pareceu ser, ao primeiro olhar, um imenso pêndulo, como esses que vemos nos relógios antigos. Havia alguma coisa, porém, na aparência desse objeto, que me fez olhá-lo com mais atenção.Enquanto a observava diretamente, olhando para cima, pois se achava colocada exatamente sobre minha cabeça, tive a impressão de que o pêndulo se movia. Um instante depois, vi que minha impressão se confirmava. Seu oscilar era curto e, por conseguinte, lento. Observei-o, durante alguns minutos, com certo receio, mas, principalmente, com espanto. Cansado, por fim, de observar o seu monótono movimento, voltei o olhar para outros objetos existentes na cela.Um ligeiro ruído atraiu-me a atenção e, olhando para o chão, vi que enormes ratos o atravessavam. Tinham saído do poço, que ficava a direita. bem diante de meus olhos. Enquanto os olhava, saíam do poço em grande número, apressadamente, com olhos vorazes, atraídos pelo cheiro da carne. Foi preciso muito esforço e atenção de minha parte para afugentá-los.Talvez houvesse transcorrido meia hora, ou mesmo uma hora - pois não me era possível perceber bem a passagem do tempo -, quando levantei de novo os olhos para o teto. O que então vi me deixou atônito, perplexo. O oscilar do pêndulo havia aumentado muito, chegando quase a uma jarda. Como conseqüência natural, sua velocidade era também muito maior. Mas o que me perturbou, principal-mente, foi a idéia de que havia, imperceptivelmente, descido. Observei, então - tomado de um horror que bem se pode imaginar -, que a sua extremidade inferior era formada de uma lua crescente feita de aço brilhante, de cerca de um pé de comprimento de ponta a ponta. As pontas estavam voltadas pura cima e o fio inferior era, evidentemente, afiado como uma navalha. Também como uma navalha, parecia pesada e maciça, alargando-se, desde o fio, numa estrutura larga e sólida. Presa a cela havia um grosso cano de cobre, e tudo isso assobiava, ao mover-se no ar.Já não me era possível alimentar qualquer dúvida quanto à sorte que me reservara o terrível engenho monacal de torturas. Os agentes da Inquisição tinham conhecimento de que eu descobrira o poço - o poço cujos horrores haviam sido destinados a um herege tão temerário quanto eu -, o poço, imagem do inferno, considerado como a Última Tule de todos os seus castigos. Um simples acaso me impedira de cair no poço, e eu sabia que a surpresa, ou uma armadilha que levasse ao suplício constituíam uma parte importante de tudo o que havia de grotesco naqueles calabouços de morte. Ao que parecia, tendo fracassado a minha queda no poço, não fazia parte do plano demoníaco o meu lançamento no abismo e, assim, não havendo alternativa, aguardava-me uma forma mais suave de destruição. Mais suave! Em minha angústia, esbocei um sorriso ao pensar no emprego dessas palavras.Para que falar das longas, longas horas de horror mais do que mortal, durante as quais contei as rápidas oscilações do aço? Polegada a polegada, linha a linha, descia aos poucos, de um modo só perceptível a intervalos que para mim pareciam séculos. E cada vez descia mais, descia mais!...Passaram-se dias, talvez muitos dias, antes que chegasse a oscilar tão perto de mim a ponto de me ser possível sentir o ar acre que deslocava. Penetrava-me as narinas o cheiro do aço afiado. Rezei - cansando o céu com as minhas preces - para que a sua descida fosse mais rápida. Tomado de frenética loucura, esforcei-me para erguer o corpo e ir ao encontro daquela espantosa e oscilante cimitarra. Depois, de repente, apoderou-se de mim uma grande calma e permaneci sorrindo diante daquela morte cintilante, como uma criança diante de um brinquedo raro.Seguiu-se outro intervalo de completa insensibilidade -um intervalo muito curto, pois, ao voltar de novo à vida, não me pareceu que o pêndulo houvesse descido de maneira perceptível. Mas é possível que haja decorrido muito tempo; sabia que existiam seres infernais que tomavam nota de meus desfalecimentos e podiam deter, à vontade, o movimento do pêndulo. Ao voltar a mim, senti um mal-estar é uma fraqueza indescritíveis, como se estivesse a morrer de inanição. Mesmo entre todas as angústias por que estava passando, a natureza humana ansiava por alimento. Com penoso esforço, estendi o braço esquerdo tanto quanto me permitiam as ataduras e apanhei um resto de comida que conseguira evitar que os ratos comessem. Ao levar um bocado à boca, passou-me pelo espírito um vago pensamento de alegria... de esperança. Não obstante, .que é que tinha com a ver com a esperança? Era, como digo, um pensamento vago - desses que ocorrem a todos com freqüência, mas que não se completam. Mas senti que era de alegria, de esperança. Como senti, também, que se extinguira antes de formar-se. Esforcei-me em vão por completá-lo... por reconquistá-lo. Meus longos sofrimentos haviam quase aniquilado todas as Faculdades de meu espírito. Eu era um imbecil, um idiota.A oscilação do pêndulo se processava num plano que tomava um ângulo reto com o meu corpo. Vi que a lâmina fora colocada de modo a atravessar-me a região do coração. Rasgaria a minha roupa, voltaria e repetiria a operação... de novo, de novo. Apesar da grande extensão do espaço percorrido - uns trinta pés, mais ou menos - e da sibilante energia de sua oscilação, suficiente para partir ao meio aquelas próprias paredes de ferro, tudo o que podia fazer, durante vários minutos, seria apenas rasgar as minhas roupas. E, ao pensar nisso, detive-me. Não ousava ir além de tal reflexão. Insisti sobre ela com toda atenção, como se com essa insistência pudesse parar ali a descida da lâmina. Comecei a pensar no som que produziria ao passar pelas minhas roupas, bem como na estranha e arrepiante sensação que o rasgar de uma fazenda produz sobre os nervos. Pensei em todas essas coisas fazendo os dentes rangerem, de tão contraídos.Descia... cada vez descia mais a lâmina. Sentia um prazer frenético ao comparar sua velocidade de cima a baixo com a sua velocidade lateral. Para a direita... para a esquerda... num amplo oscilar... com o grito agudo de uma alma penada; para o meu coração, com o passo furtivo de um tigre! Eu ora ria, ora uivava, quando esta ou aquela idéia se tornava predominante.Sempre para baixo... certa e inevitavelmente! Movia-se, agora, a três polegadas do meu peito! Eu lutava violentamente, furiosamente. para livrar o braço esquerdo. Este estava livre apenas desde o cotovelo até a mão. Podia mover a mão, com grande esforço, apenas desde o prato, que haviam colocado ao meu lado, até a boca. Nada mais. Se houvesse podido romper as ligaduras acima do cotovelo, teria apanhado o pêndulo e tentado detê-lo. Mas isso seria o mesmo que tentar deter uma avalancha!Sempre mais baixo, incessantemente, inevitavelmente mais baixo! Arquejava e me debatia a cada vibração. Encolhia-me convulsivamente a cada oscilação. Meus olhos seguiam as subidas e descidas da lâmina com a ansiedade do mais completo desespero; fechavam-se espasmodicamente a cada descida, como se a morte houvesse sido um alívio... oh, que alívio indizível! Não obstante, todos os meus nervos tremiam. à idéia de que bastaria que a máquina descesse um pouco mais para que aquele machado afiado e reluzente se precipitasse sobre o meu peito. Era a esperança que fazia com que meus nervos estremecessem, com que todo o meu corpo se encolhesse. Era a esperança - a esperança que triunfa mesmo sobre o suplício -, a que sussurrava aos ouvidos dos condenados à morte, mesmo nos calabouços da Inquisição.Vi que mais umas dez ou doze oscilações poriam o aço em contato imediato com as minhas roupas e, com essa observação, invadiu-me o espírito toda a calma condensada e viva do desespero. Pela primeira vez durante muitas horas - ou, talvez dias - consegui pensar. Ocorreu-me, então, que a tira ou correia que me envolvia o corpo era inteiriça. Não estava amarrada por meio de cordas isoladas.O primeiro golpe da lâmina em forma. de meia lua sobre qualquer lugar da correia a desataria, de modo a permitir que minha mão a desenrolasse de meu corpo. Mas como era terrível, nesse caso, a sua proximidade. O resultado do mais leve movimento, de minha parte, seria mortal! Por outro lado, acaso os sequazes do verdugo não teriam previsto e impedido tal possibilidade? E seria provável que a correia que me atava atravessasse o meu peito justamente no lugar em. que o pêndulo passaria? Temendo ver frustrada essa minha fraca e, ao que parecia, última esperança, levantei a cabeça o bastante par ver bem o meu peito. A correia, envolvia-me os membros e o corpo fortemente em todas as direções, menos no lugar em que deveria passar a lâmina assassina.Mal deixei cair a cabeça em sua posição anterior, quando senti brilhar em meu espírito algo que só poderia descrever aproximadamente, dizendo que era como que a metade não formada da idéia de liberdade a que aludi anteriormente, e da qual apenas uma parte flutuou vaga-mente em meu espírito quando levei o alimento aos meus lábios febris. Agora, todo o pensamento estava ali presente - débil, quase insensato, quase indefinido -, mas, de qualquer maneira, completo. Procurei imediatamente, com toda a energia nervosa do desespero, pô-lo em execução.Havia várias horas, um número enorme de ratos se agitava junto do catre em que me achava estendido. Eram temerários, ousados, vorazes; fitavam sobre mim os olhos vermelhos, como se esperassem apenas minha imobilidade para fazer-me sua presa. "A que espécie de alimento", pensei, "estão eles habituados no poço?" Haviam devorado, apesar de todos os meus esforços para o impedir, quase tudo o alimento que se encontrava no prato, salvo uma pequena parte. Minha mão se acostumara a um movimento oscilatório sobre o prato e, no fim, a uniformidade inconsciente de tal movimento deixou de produzir efeito. Em sua veracidade, cravavam freqüentemente em meus dedos os dentes agudos. Com o resto da carne oleosa e picante que ainda sobrava. esfreguei fortemente, até o ponto em que podia alcançá-la, a correia com que me haviam atado. Depois, erguendo a mão do chão, permaneci imóvel, quase sem respirar.A princípio, os vorazes animais ficaram surpresos c aterrorizados com a mudança verificada - com a cessação de qualquer movimento. Mas isso apenas durante um momento. Não fora em vão que eu contara com a sua voracidade. Vendo que eu permanecia imóvel, dois ou três dos mais ousados soltaram sobre o catre e puseram-se a cheirar a correia. Dir-se-ia que isso foi o sinal para a investida geral. Vindos da parede, arremeteram em novos bandos. Agarraram-se ao estrado, galgaram-no e pularam. as centenas sobre o meu corpo. O movimento rítmico do pêndulo não os perturbava de maneira alguma. Evitando seus golpes, atiraram-se à correia besuntada. Apertavam-se, amontoavam-se sobre mim. Contorciam-se sobre meu pescoço; seus focinhos, frios. procuravam meus lábios. Sentia-me quase sufocado sob o seu peso. Um asco espantoso, para o qual não existe nome, enchia-me o peito e gelava-me, com pegajosa umidade, o coração. Mais um minuto, e percebia que a operação estaria terminada. Sentia claramente que a correia afrouxava. Sabia que, em mais de um lugar, já devia estar completamente partida. Com uma determinação sobre-humana continuei imóvel.Não errei em meus cálculos; todos esses sofrimentos não foram em vão. Senti, afinal, que estava livre. A correia pendia, em pedaços, de meu corpo. Mas o movimento do pêndulo já se realizava sobre o meu peito. Tanto a sarja da minha roupa, como a camisa que vestia já haviam sido cortadas. O pêndulo oscilou ainda por duas vezes, e uma dor aguda me penetrou todos os nervos. Mas chegara o momento da salvação. A um gesto de minha mão, meus libertadores fugiram tumultuosamente. Com um movimento decidido, mas cauteloso, deslizei encolhido, lentamente, para o lado, livrando-me das correias e da lâmina da cimitarra. Pelo menos naquele momento, estava livre.Livre! E nas garras da Inquisição! Mal havia escapado daquele meu leito de horror e dado uns passos pelo piso de pedra da prisão, quando cessou o movimento da má-quina infernal e eu a vi subir, como que atraída por alguma força invisível, para o teto. Aquela foi uma lição que guardei desesperadamente no coração. Não havia dúvida de que os meus menores gestos eram observados. Livre! Escapara por pouco à morte numa determinada forma de agonia, apenas para ser entregue a uma outra, pior do que a morte. Com este pensamento, volvi os olhos, nervosamente, para as paredes de ferro que me cercavam. Algo estranho - uma mudança que, a princípio, não pude apreciar claramente - havia ocorrido, evidentemente, em minha cela. Durante muitos minutos de trêmula abstração, perdi-me em conjeturas vãs e incoerentes. Pela primeira vez percebi a origem da luz sulfurosa que alumiava a cela. Procedia de uma fenda, de cerca de meia polegada de largura, que se estendia em torno do calabouço, junto a base das paredes, que pareciam, assim, e, na verdade estavam, completamente separadas do solo. Procurei, inutilmente, olhar através dessa abertura.Ao levantar-me, depois dessa tentativa, o mistério da modificação verificada tornou-se-me, subitamente, claro. Já observara que, embora os contornos dos desenhos das paredes fossem bastante nítidos, suas cores, não obstante, pareciam apagadas e indefinidas. Essas cores, agora, haviam adquirido, e estavam ainda adquirindo, um brilho intenso e surpreendente, que dava às imagens fantásticas e diabólicas um aspecto que teria arrepiado nervos mais firmes do que os meus. Olhos demoníacos, de uma vivacidade sinistra e feroz, cravavam-se em mim de todos os lados, de lugares onde antes nenhum deles era visível, com um brilho ameaçador que eu, em vão, procurei considerar como irreal.Irreal! Bastava-me respirar para que me chegasse às narinas o vapor de ferros em brasa! Um cheiro sufocante invadia a prisão! Um brilho cada vez mais profundo se fixava nos olhos cravados em minha agonia! Um vermelho mais vivo estendia-se sobre aquelas pinturas horrorosas e sangrentas. Eu arquejava. Respirava com dificuldade. Não poderia haver dúvida quanto à intenção de meus verdugos, os mais implacáveis, os mais demoníacos de todos os homens! Afastei-me do metal incandescente,colocando-me ao centro da cela. Ante a perspectiva da morte pelo fogo,que me aguardava, a idéia da frescura do poço chegou à minha alma como um bálsamo. Precipitei-me para as suas bordas mortais. Lancei o olhar para o fundo. O resplendor da abóbada iluminava as suas cavidades mais profundas. Não obstante, durante um minuto de desvario, meu espírito se recusou a compreender o significado daquilo que eu via. Por fim, aquilo penetrou, à força, em minha alma, gravando-se a fogo em minha trêmula razão. Oh, indescritível! Oh, horror dos horrores! Com um grito, afastei-me do poço e afundei o rosto nas mãos, a soluçar amargamente.O calor aumentava rapidamente e, mais uma vez, olhei para cima, sentindo um calafrio. Operara-se uma grande mudança na cela - e, dessa vez, a mudança era, evidentemente, de forma. Como acontecera antes, procurei inutilmente apreciar ou compreender o que ocorria. Mas não me deixaram muito tempo em dúvida. A vingança da Inquisição se exacerbara por eu a haver frustrado por duas vezes - e não mais permitiria que zombasse dela! A cela, antes, era quadrada. Notava, agora, que dois de seus ângulos de ferro eram agudos, sendo os dois outros, por conseguinte, obtusos. Com um ruído surdo, gemente, aumentava rapidamente o terrível contraste. Num instante, a cela adquirira a forma de um losango. Mas a modificação não parou aí - nem eu esperava ou desejava que parasse. Poderia haver apertado as paredes incandescentes de encontro ao peito, como se fossem uma vestimenta de eterna paz. "A morte", disse de mim para comigo. "Qualquer morte, menos a do poço!" Insensato! Como não pude compreender que era para o poço que o ferro em brasa me conduzia? Resistiria eu ao seu calor? E, mesmo que resistisse, suportaria sua pressão? E cada vez o losango se aproximava mais, com uma rapidez que não me deixava tempo para pensar. Seu centro e, naturalmente, a sua parte mais larga chegaram até bem junto do abismo aberto. Recuei, mas as paredes, que avançavam, me empurravam, irresistivelmente, para a frente. Por fim, já não existia, para o meu corpo chamuscado e contorcido, senão um exíguo lugar para firmar os pés, no solo da prisão. Deixei de lutar, mas a angústia de minha alma se extravasou em forte e prolongado grito de desespero. Senti que vacilava à boca do poço, e desviei os olhos... Mas ouvi, então, um ruído confuso de vozes humanas! O som vibrante de muitas trombetas! E um rugido poderoso, como de mil trovões, atroou os ares! As paredes de fogo recuaram precipitadamente! Um braço estendido agarrou o meu, quando eu, já quase desfalecido, caía no abismo. Era o braço do General Lassalle. O exército francês entrara em Toledo. A Inquisição estava nas mãos de seus inimigos.
- Fim -

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A Pirâmide do Louvre!

Das coisas mais estranhas que já vi na vida, nada se compara a sensação de chegar ao Louvre e encontrar esta pirâmide de vidro... Seria mais fácil encontrar São Luis de asas ou o fantasma de Jacques Molay...

Olhei, dei voltas, sentei, levantei, fui até o pavilhão Richelieu (ele não estava!), retornei, olhei de outros ângulos, mais distantes, mais próximos, sentada no chão, parada, andando... Nem o Pei consegue me convencer... e olha que eu gostei do Museu em Berlim... Não sou arquiteta... só não consegui entender isto...


Minha teoria: o Dan Brown, em 1981 começou a escrever o Código Da Vinci e precisava de uma pirâmide em Paris, para não gastar com as possíveis filmagens indo até o Cairo, daí, o Arquiteto SinoAmericano, camarada do Mitterrand, foi autorizado a construir essa belezinha....

Londres, por sua vez, podia usar do mesmo bom gosto e colocar uma réplica daquelas esculturas da ilha de Pascua em vidro, indicando a localização do Big Ben, bem ali, nos jardins do Parlamento... Olha que Lindo!

............................................Livia Ulian